sábado, 1 de agosto de 2009

O Amor começa com uma boa idéia...

Tudo começa com uma ideia. Você encontra uma linda garota em uma festa e a convida para dançar. Na sua cabeça, começa a se formar a ideia de que essa mulher, embora não faça parte do seu passado, pode começar no presente a fazer parte do seu futuro.

E aí as imagens começam a se formar: vocês dois estão na pista de dança, mas na sua cabeça vocês já estão aos beijos no sofá da sua casa. Você volta à realidade, abre os olhos e ela ainda está lá, dançando, feliz. No momento seguinte, você pisca e se vê com ela em um restaurante, jantando à luz de velas, brindando com belas taças de champanhe.

Por enquanto são apenas ideias, mas alguém que visse sua cara de apaixonado imaginaria que não são apenas ideias, mas um projeto de vida que você planeja pôr em prática assim que o DJ baixar o som e essa maldita música eletrônica permitir que você pense direito.

Por enquanto, a garota dançando na sua frente é apenas uma mulher bonita; daqui a pouco ela ganhará um nome. Em pouco tempo, ganhará um endereço, pai e mãe, amigas, gostos, medos. A ideia que você tem dela vai crescendo, se transformando, ganhando riqueza em detalhes. Antes do que você pensa, ela virou uma pessoa conhecida que já faz parte da sua vida.Agora, ao pensar nela, você nem precisa fazer força para se lembrar do seu rosto. Sua memória tem, inclusive, várias opções disponíveis: uma versão dela acordando, outra se vestindo para o trabalho, com figurinos de cores e modelos diferentes. Já dá até para fazer uma listinha mental de quantas roupas dela você se lembra.

Toda essa informação, porém, não impede que sua percepção continue sendo na forma de uma ideia. Uma ideia bem mais completa, é verdade, mas ainda assim, uma ideia.
Essa ideia é o conjunto de informações que vem à sua cabeça à tarde, no trabalho, quando você pensa nela. Você não pensa em tudo o que ela representa para você, nem haveria tempo hábil no mundo para isso. Mas você pensa em alguma coisa específica, alguma expressão facial ou corporal (ou ambas), alguma frase pronunciada em determinada ocasião. Isso é a ideia que você tem dela.

A ideia que temos de alguém não corresponde exatamente ao que essa pessoa é, por mais que nossa memória seja objetiva. É uma lembrança abstrata e às vezes até aleatória, como um reflexo mental que as pessoas amadas produzem na gente. E aí essa ideia fica eternizada, até mesmo quando as pessoas não estão mais juntas. Como será a ideia que as pessoas que você ama têm de você?

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Timing e o Momento

Para começar, vamos tentar definir o significado da expressão usada no título: timing é a 'a relação do indivíduo com o tempo/espaço', o contexto em que algum fato acontece e a reação que ele provoca em um cenário específico. Traduzindo: um cara que está no lugar certo na hora certa está com o timing perfeito.

E o timing errado? Imagine que você se forma no dia em que surge uma ótima vaga de estágio... só para estudantes. Até algo supostamente positivo pode sofrer com o timing errado, como o artista que lança um CD de um determinado estilo superoriginal anos antes desse estilo virar moda e estourar nas paradas. O timing pode ser questão de bom senso ou oportunidade, mas às vezes depende de fatores que não controlamos.

Essa característica incontrolável do timing afeta o lado emocional e a dinâmica de qualquer relacionamento. Imagine que o mundo é um gráfico e as vidas são linhas tortuosas riscando o diagrama em direção a algum ponto. As linhas da maioria das pessoas nem se aproxima, até porque somos tantos que o mundo não comportaria tantos pontos de encontro. Mas muitas se cruzam e se separam; outras se entrelaçam e viram uma só. As que se cruzam podem voltar a se cruzar lá na frente; às que viraram uma só podem se separar quando menos se espera.

É uma pena quando o timing estraga um relacionamento legal. Parece covardia culpar só o timing, elemento tão abstrato quanto, sei lá, o amor. Mas muitas vezes ele é, sim, o grande responsável pelo sucesso ou o fracasso de uma relação.

Imagine você começando a namorar um dia antes de receber o telefonema no qual a garota por quem você era apaixonado na adolescência revela que está se separando porque sonha em ficar com você. Ou o caso mais clássico, o do casal que não consegue ficar junto porque os dois estão em momentos muito diferentes de vida. Um quer casar, o outro acaba de se separar; Um sonha em ter filhos, o outro já tem filhos demais. Um não aguenta ficar longe da família; o outro acaba de ser transferido para um emprego no exterior. São tantas variáveis que essa folha de papel ficaria pequena.

O timing tem mais poder do que se imagina. Tomar decisões certas não tem preço: você já deve ter sentido isso. Eu já senti. E me dei mal por não aceitar que o timing pode ajudar ou atrapalhar, dependendo do momento em que somos obrigados a tomar uma decisão. Mas temos que seguir nossa vida em frente fazendo sempre o que achamos que é honesto, correto. E torcendo para estarmos na hora certa no lugar certo, sempre.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Um encontro no meio do caminho...

Fergie, vocalista do Black Eyed Peas:
Eu me encontraria com ela em qualquer situação, é só ela marcar data e local.


Não sou o escritor inglês Nick Hornby, mas também acredito que é possível descobrir pérolas literárias nas letras da música pop. Claro que é mais fácil encontrá-las em canções do U2 ou do Radiohead, mas acabo de descobrir que elas podem aparecer em qualquer lugar. Até no meio de um hip-hop-rap-funk-house-electro do Black Eyed Peas.
O disco 'The E.N.D.' mistura música eletrônica moderninha com pitadas dos velhos e bons Earth, Wind & Fire e Kool the Gang. É muito bom, diga-se de passagem, principalmente músicas como 'Rock That Body' 'I Gotta Feeling' e 'Missing You'. O público que certamente vai lotar as pistas de dança prestará muito mais atenção ao ritmo da música, mas há mais coisas entre o início e o fim de 'Meet me Halfway' do que imagina a vã filosofia do tum-tum-tum bate-estaca.
O título da canção significa algo como 'me encontre no meio do caminho'. Interpretada pela bela e sexy vocalista Fergie, a tradução da letra vai mais ou menos assim: "Me encontre no meio do caminho/Eu estarei te esperando/Você levou meu coração ao limite/E daqui eu não posso passar".
Profundo como um pires? Nada disso. Altamente filosófico. Talvez você não tenha percebido a sutil metáfora que compara o espaço físico ao estado emocional que separa o casal. Ela quer se aproximar do amado, mas acha que já se doou demais nesse relacionamento. Ela quer ficar com o cara, mas quer que ele tome um pouco de iniciativa. É hora de deixar o egoísmo de lado, é hora de ele mostrar que está interessado.
No fundo, não é isso que desejamos? Conhecer e se apaixonar por alguém que nos encontre exatamente na metade do caminho? Yes.Todas as pessoas vêm de lugares diferentes, de origens únicas. Todo mundo é fruto de famílias diferentes, de contextos diferentes, de histórias de vida diferentes. E aí, em algum momento, essas pessoas se conhecem, se desejam. Mas isso não é suficiente. Não basta querer o outro, é preciso que o outro também te queira. Você começa então um relacionamento a quilômetros de distância – emocional, claro – e dá um passo de cada vez. As personalidades se atraem como ímãs: ela dá um passo na sua direção, você dá um passo na direção dela. Um probleminha faz você recuar um passo, uma emoção maior faz com que ela dê dois passos à frente.
O espaço entre os dois vai ficando menor, menor ainda, até que o casal se encontra. Será exatamente o meio do caminho? Às vezes sim, às vezes não. Às vezes é mais perto da origem dela, às vezes é mais perto da origem dele. Tudo bem.
O único segredo para dar certo é não forçar nenhum dos dois a caminhar demais. Por uma razão bastante simples: cansa.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

É melhor amar ou ser amado?

Só porque este texto começou com uma pergunta não significa necessariamente que ele vai terminar com uma resposta. Aliás, já vou avisando que não vai. Principalmente porque a questão acima não tem uma resposta, mas várias. Hoje você pode acordar com uma opinião na ponta da língua; amanhã seu pensamento pode ser exatamente o contrário.

É claro que há gente que ama e é amado, já que um sentimento não exclui o outro, mas isso acontece apenas em raras vidinhas perfeitas. Você ama uma pessoa, essa pessoa te ama de volta. Ponto final. Há probleminhas, mas basicamente você é feliz. E a vida segue razoavelmente tranquila, com pouco desequilíbrio emocional e eventuais briguinhas resolvidas por meio de deliciosos atos sexuais de reconciliação.

Na verdade, essa pergunta só tem sentido quando os dois sentimentos não acontecem simultaneamente, pelo menos para uma das pessoas envolvidas. Só então a gente acaba sendo obrigado a se perguntar: é melhor amar ou ser amado?

Não há dúvidas de que ser amado tem suas vantagens. Você não sente aquela emoção arrebatadora, mas também não fica tão mal se algo dá errado ao longo do caminho. Já amar dá um pouco mais de trabalho: quem ama fica dependente do objeto da paixão. E há sempre o risco desse amor deixar de ser correspondido, ou seja, a infelicidade pode estar ali, virando a esquina.

Quem é amado recebe; quem ama, dá. Quem é amado tem o poder nas mãos, quem ama está vulnerável como um carro sem freios no topo da ladeira. E, paradoxalmente, um sentimento não existe sem o outro: não adianta nada ter uma montanha de caviar se você está totalmente sem fome.

Tenho certeza de que você já foi amado sem amar, assim como é provável que você já tenha amado sem ter sido correspondido. Esse desencontro faz parte da vida amorosa, cuja formação começa na adolescência. Será mais fácil se apaixonar quando a gente é jovem? Ou a idade não tem relação com a emoção? O amor muda conforme o tempo passa; a gente também. Alguns dirão que amar é melhor quando a gente é adolescente; talvez sejam os mesmos que garantirão que, quando o tempo passa, o melhor mesmo é ser amado.

Será que existe gente que começa a amar e ser amado ao mesmo tempo? Nah. Se fosse assim, as pessoas diriam 'eu te amo' ao mesmo tempo, como um jogral. Mas não é isso que acontece: alguém sempre diz antes. É melhor dizer 'eu te amo' ou 'eu também'? Desculpe, mas essa é outra pergunta sem resposta.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mantenha a sua personalidade

No novo disco do Depeche Mode, o sensacional Sounds of the Universe, há uma canção chamada Fragile Tension, que vai mais ou menos assim: "Uma frágil tensão nos mantém juntos / Pode até não durar para sempre, mas é incrível enquanto a vivemos."

A letra continua mais ou menos nessa linha, como se o cara estivesse conversando com a mulher sobre o relacionamento dos dois. E daí eu comecei a pensar: será que uma frágil tensão é necessária entre um casal? Será que um pouquinho de conflito é positivo, será que é necessário para manter acesa a chama da paixão?

Apagando a minha última frase, extremamente brega, acho que o Depeche Mode pode estar certo. É inevitável rolar uma briguinha do casal de vez em quando, não é? Nada muito forte, nada sério. Apenas algo como uma... frágil tensão.

Conheço casais que brigam o tempo inteiro e continuam juntos. Talvez sejam masoquistas; talvez tenham medo de se tornarem reféns da também inevitável apatia que toma conta das nossas vidas quando passamos muito tempo ao lado da mesma pessoa. Ou talvez sejam apenas um casal de chatos mesmo.

Por outro lado, acho bastante estranho quando ouço casais dizendo que nunca brigam. Sério, será que é possível viver com uma pessoa sem nenhuma desavença, os dois concordando com tudo o tempo inteiro? Uau, que inveja.

Quer dizer, inveja em termos. Nem tanto ao sol nem tanto à lua... In Medio Stat Virtus (a virtude está no centro), já dizia Aristóteles.Pensando bem, o relacionamento nada mais é do que um ajuste entre duas pessoas diferentes, entre dois pontos de vista diferentes, entre duas vidas diferentes. Graças ao amor, que funciona como uma espécie de cola espiritual, superamos essas diferenças e vivemos em paz, aceitando o outro como ele é, com seus defeitos e idiossincrasias (adoro usar essa palavra – vem do grego e significa 'temperamento peculiar').

Voltando ao que interessa... sim, aceitamos o outro como ele é, mas isso não significa que temos de concordar com tudo o que ele pensa. É importante manter algumas posições e opiniões justamente para não anular quem você é, para ser coerente com você mesmo. Lembre-se de que o outro também se apaixonou por você exatamente porque você era assim, do seu jeito.

Há uma frase que brinca com essa história de mudança da personalidade: a mulher se casa achando que vai mudar o homem; o homem se casa achando que a mulher não vai mudar. Como se vê, entre as duas ideias há uma... frágil tensão.

domingo, 21 de junho de 2009

Amores fáceis, amores difíceis

Tem coisa mais verdadeira do que um velho ditado? Outro dia ouvi críticas ao comportamento desses herdeiros milionários que saem toda semana em revista de celebridade, dizendo que quem ganha dinheiro fácil também gasta fácil. Com todo o respeito aos corações quebrados do mundo inteiro, acho que podemos aplicar o velho ditado ao amor.

Vamos imaginar uma cena: você conhece alguém no finalzinho de uma balada superlouca, quase de manhã. No dia seguinte, acorda e descobre no bolso da calça um guardanapo amassado com um número de telefone rabiscado. Seus neurônios ainda estão meio com sono, mas então você se lembra de que beijou uma garota, apesar de não se lembrar nem do rosto nem do nome dela. Convenhamos que essa pode até virar uma história de amor maravilhosa, mas a verdade é que provavelmente você estará diante de um típico caso de apenas uma noite de duração. E o guardanapo amassado, salvo raras exceções, deve parar mesmo é no lixo.

(O que? Você conheceu seu marido assim? É claro que eu acredito. O amor não tem lógica nenhuma, tem?)

Há casos de relacionamentos que vêm da maneira mais fácil do mundo e, na hora de ir embora, nos deixam daquela maneira estranha, difícil, com um sentimento que a gente não aceita de jeito nenhum. Por outro lado, há amores que chegam truncados, complicados, com o casal lutando contra tudo e todos para ficar juntos... até que o relacionamento se concretiza e os dois percebem que não era nada daquilo. A guerra para mantê-lo aceso acaba se tornando apenas uma decepção para contar aos amigos numa mesa de bar.

Não há uma receita para saber qual desses dois tipos de fim terá o seu amor, se algum dia (toc, toc, isola) ele terminar. Porque é fácil dizer como esse amor nasceu; é só lembrar se foi fruto de uma conquista brava ou se você apenas estalou os dedos e a outra pessoa caiu de quatro. Mas você só vai descobrir o tipo de memória que seu amor deixará depois que ele disser adeus. E aí o sentimento estará fora das suas mãos. Como sempre esteve, aliás.

Um amigo me disse outro dia uma frase que me marcou. Ele falou que se um relacionamento chega ao fim, não é porque ele não deu certo: é porque deu certo durante o tempo que tinha que dar. De certa forma, é uma variação do famoso 'Soneto da Fidelidade', de Vinícius de Moraes: 'Que (o amor) não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure'. Mas é uma outra formulação bem interessante, não? Um pouco mais otimista do que casais que terminam seus relacionamentos estão acostumados a ouvir.